Não é raro encontrar queixas de pais que, ao
buscarem seus filhos na escola os encontram mordidos por algum coleguinha.
Geralmente são crianças pequenas, que estão aprendendo a dividir seu espaço com
outras crianças da mesma idade. Nesse período estão aperfeiçoando seus sentidos
e agora fora dos cuidados dos pais e precisando dividir a atenção dos adultos
com outras crianças.
Não é fácil para os pais assimilarem essas mordidas
sem mágoa ou indignação de alguém, que não se conforma com a situação ao ver
seu filho tão desprotegido, agora marcado pelos dentes de um colega. Tão
desagradável quanto, é a situação dos pais da criança que morde. E assim uma
cascata de cobranças começa em cima da escola, por não ter profissionais
suficientes. E se tem, não estavam atentos aos ocorridos.
Vale lembrar que as crianças estão em fase de
amadurecimento e consequentemente estão aprendendo a exteriorizar suas
angustias; medos, frustrações, anseios e descobertas. Através do sistema
nervoso central começam a elaborar o tato, o olfato, o paladar, a visão, e a
audição. Consequentemente com as novas descobertas aprendem a usar as mãos, os
dentes, como instrumentos de defesa. Numa fase anterior, talvez tenha sido o
choro o instrumento mais usado para marcar a atenção. Não é fácil para a
criança aprender a conviver com outras crianças da mesma faixa etária, que
também disputam atenção.
A mordida faz parte dos mecanismos de defesas mais
primitivos do homem. Quando ele não consegue outra forma de comunicação, ou
explorar o ambiente da forma que lhe agrada é possível que use esse artifício
para marcar seu espaço. Cabem aos pais, professores, não supervalorizarem a
mordida em si, e sim as causas que levaram uma a morder, e a outra a permitir
ser mordida. Quanto à escola, sabendo que está engajada com crianças que estão
na fase de dividir, interagir. E se para nós adultos isso já não é tão simples,
imagine para uma criança. É necessário trabalhar de forma lúdica pedagógica os
sentidos, os gostos, o afeto e a divisão de espaço necessária para uma boa
convivência.
Acredito ainda, que os pais devam ficar cientes que
isso é um fato comum nas salas de aula onde convivem crianças que estão ainda
em fase de amadurecimento do Sistema Nervoso Central. Elas experimentam as
reações dos outros através de suas ações e conseqüências. Os adultos necessitam
usar de coerência e não supervaloriza a mordida.
Muitas vezes, crianças que mordem na escola são
crianças mais possessivas que querem atenção exclusiva, filhos únicos, filhos
de pais que estão em processo de separação, ou ainda crianças que estão com
irmãozinhos recém nascidos em casa. De alguma forma ele precisa extravasar suas
angustias e ansiedades. Como ainda não tem um repertório de vocabulário
eficiente para comunicar-se utilizam o mecanismo da mordida como manifesto. Um
trabalho em grupo, com argila, onde se trabalha a função da boca, dos dentes,
da língua, da saliva, dos lábios, etc., acaba sendo um instrumento pedagógico
bastante eficaz. Desta forma ele vai assimilar as funções e consequentemente o professor
vai poder interpretar melhor a conceito interior de seus conflitos internos.
A questão da mordida deve ser trabalhada dentro da
escola. E as causas das mordidas precisam de uma avaliação mais minuciosa entre
os pais e a equipe pedagógica, para juntos reconquistarem a harmonia entre os
pequenos, os pais e a escola. Vale lembrar que somos todos inocentes, tanto a
criança que agride através da mordida, expressando seus conflitos internos,
quanto à criança que não aprendeu seus mecanismos de defesas. Os pais que
entram em angustias ao defenderem seus pequenos, quanto à escola que depara com
essa situação e muitas vezes se sente impotente ao receber o rótulo de
negligente. A coerência entre os adultos é a melhor forma de suavizar esses
pequenos conflitos diante da vastidão de angustia do mundo dos adultos.
(*)
Albertina de Mattos Chraim – Psicopedagoga do La Vie Centro de Revitalização
Disponível em: http://criancagenial.blogspot.com.br/2008/02/as-mordidas-na-escola.html