quarta-feira, 15 de fevereiro de 2012

MODELAGEM MATEMÁTICA


TRABALHANDO A MODELAGEM MATEMÁTICA ATRAVÉS DOS FENÔMENOS NATURAIS

Bruna Charlenne Feliciano Silva, Andrea Ferreira da Silva
e Ross Nascimento

Introdução
    O interesse pelo tema da modelagem matemática surgiu da necessidade de se desenvolver compreensões sobre as práticas de ensino/aprendizagem que sejam propostas de forma contextualizada e dinâmica. Romper com os métodos tradicionais de ensino deve ser uma meta para se buscar novas formas de aprendizagem. Já que metodologia continua sendo um forte processo de ensino desenvolvido nas aulas de matemática do ensino fundamental.
    As dificuldades de ensino-aprendizagem na matemática, principalmente nas séries iniciais do ensino fundamental tem sido um dos motivos em que está se verificando problemas de evasão e repetência escolar. A partir deste contexto, Candau [3], aponta a necessidade de se “reinventar a escola”. Destacando três questões importantes para essa reinvenção: a relação da escola com a cultura, a formação inicial e continuada dos professores e como se dá a relação dos saberes escolares e sociais. Assim, percebe-se uma necessidade de transformação das práticas escolares, principalmente nas aulas de matemática acontecendo num espaço de diálogo, com análise crítica e capacidade reflexiva.
    No sentido de entender que mecanismos podem minimizar os problemas de ensino/aprendizagem em matemática, recorremos a uma técnica que vem sendo bastante discutida na educação matemática, o ensino a partir da metodologia de ‘Modelagem Matemática’, que parece permitir a utilização de temas diversos que podem ser trabalhados de forma interdisciplinar, podendo ser discutido e representado em uma linguagem própria (matemática). Sendo assim, este artigo visa apresentar os resultados de uma prática que foi experienciada em uma atividade com uso de Modelagem Matemática com crianças do 5º ano (4ª série) do ensino fundamental, propomos como base do estudo a análise do tema “Fenômenos Naturais”, onde abordamos tais notícias a partir de reportagens de jornais e revistas como, por exemplo, as fortes chuvas ocorridas nos últimos anos no nosso país, que acarretaram várias enchentes, quedas de barreiras e mortes. Tais informações serviram como fonte de dados para verificar como os alunos procedem na representação dos dados matemáticos que são informados nas notícias, no sentido de  verificar que conhecimentos matemáticos são possíveis de serrem representados para esses fatos.

Material e métodos
    A pesquisa foi realizada com alunos do 5º ano (4ª série) do ensino fundamental da Escola Municipal Iraci Rodovalho situada na cidade de Jaboatão dos Guararapes. Objetivamos através de observação e análise dos dados, entender a compreensão dos alunos para esses fatos e como registram tais informações por meio da linguagem matemática. Buscávamos perceber que dados matemáticos relativos aos temas relacionados podiam ser representados.
    Para a realização do trabalho utilizamos jornais contendo matérias sobre catástrofes ocorridas por fenômenos naturais, que foram apresentados aos alunos a partir de uma composição em cartolina para que entendessem a sistematização dos dados que eram informados.
     O trabalho foi organizado em três etapas, a primeira se consistiu na preparação de uma aula no campo das ciências sobre os fenômenos naturais, a segunda etapa foi a seleção dos materiais utilizados na aula (jornais e revistas para composição dos cartazes), e a última parte se deu a partir da coleta das informações (registro dos alunos de forma escrita ou por desenho, daquilo que entendiam das informações), obtidas para posterior análise.
Resultados
    Por meio da análise dos dados obtidos através do procedimento de pesquisa realizado para o trabalho (sobre uso da modelagem a partir de situações sobre catástrofes naturais), observou-se que, os alunos se mostram interativos ao discutirem um tema real e do seu cotidiano, ao qual eles têm contato através dos meios de comunicação que muitos de seus pais possuem e discutem em casa.
     Os estudantes demonstraram facilidade e clareza no entendimento do tipo de atividade trabalhada, contabilizaram as informações obtidas através da leitura dos jornais que lhes foram informadas nos cartazes, produziram quadros e desenhos comparativos com registro matemático para os números (totalização) encontrados nas matérias (ex. números de mortos, desabrigados e de cidades atingidas pelas catástrofes).
    Ao analisarmos os pontos destacados pelos alunos, pudemos perceber que as crianças utilizaram maneiras bem próximas de registrar sua compreensão diante das notícias, enfatizando o que consideraram de mais importantes. No entanto, foi durante a oralização sobre a temática que surgiram as mais diversas opiniões sobre as causas, conseqüências e possíveis soluções para o problema das enchentes no nordeste do Brasil ocorridas no início do ano de 2010. Na tabela estão algumas das sistematizações feitas pelos estudantes.

    Observou-se que os alunos demonstram interesse por temáticas que envolvam situações reais, eles expressam suas opiniões sem grandes preocupações de erros ou acertos sobre os conhecimentos que estão sendo tratados.
                  
Discussão
    Numa abordagem social tomamos como referência para o nosso trabalho as concepções construtivistas, pautadas nas teorias de Vygotsky, colocadas por Oliveira [5], as quais enfatizam a relação entre aprendizagem e desenvolvimento através das interações entre o sujeito e o meio ao qual ele está inserido.
    Diante disso, concluímos que por possuir um caráter dinâmico, interdisciplinar e reflexivo, a aplicação da modelagem matemática quando trabalhada a partir de conteúdos referentes às ciências naturais, experienciada com crianças menores, se mostrou um valioso instrumento no processo de construção do conhecimento matemático para séries iniciais, sendo um ponto que merece ser mais discutido entre os professores desse nível de aprendizagem.
    A partir dos resultados obtidos com a presente pesquisa percebemos a necessidade de se trabalhar os conteúdos escolares de maneira contextualizada e interdisciplinar, aproximando esses conteúdos da realidade dos discentes a fim de facilitar o processo de aprendizagem.
    Percebemos também que a prática docente não deve ser dissociada da pesquisa, pois o educador precisa desenvolver diferentes maneiras para trabalhar os conteúdos escolares, adequando-os a realidade de seus alunos, e para tanto, ele deve se posicionar como um professor-pesquisador. Deve ser compromissado com a sua prática, norteado pela sua concepção de homem e de mundo, tomando sua sala de aula e a comunidade na qual a escola se insere, como campo de estudo, refletindo sempre sobre sua ação docente num processo constante de ação-reflexão-ação. Contribuindo assim para a formação crítica de seus alunos.
    Entendemos que a técnica de modelagem matemática é valorativa quando bem encaminhada para as séries inicias. Esse fato foi uma preocupação em nossa pesquisa, pois não tínhamos opinião definida como os alunos iriam se comportar diante desse tipo da atividade experiênciada.
Agradecimentos
    Agradecemos a coordenação do curso de Licenciatura em Pedagogia e aos professores e professoras do Departamento de Educação da Universidade Federal Rural de Pernambuco pelo incentivo e pelas contribuições significativas em nossas pesquisas.
Bibliografia
[1]BARBOSA, J. C. Modelagem Matemática na sala de aula. In:Perspectiva Erechim (RS),v. 27, nº 98, p. 65-74, junho de 2003.
[2]BORBA, M. C. A modelagem enquanto proposta pedagógica. In: Caderno de resumos da I CAREM. Buenos Aires, Argentina, 1999.
[3]CANDAU, V. M. F. Formação continuada de professores: tendências atuais. In:REALI, A. & MIZUKAMI, M. G. N. Formação de professores: tendências atuais.São Carlos: EdUFSCar, 1996.
[4]D’AMBRÓSIO, U. A Matemática nas escolas. In: Educação Matemática em Revista, ano 9, nº11. Edição Especial. Abril de 2002.
[5]LOPES, A.C.; MACEDO, E. (org.). Currículo: debates contemporâneos. São Paulo: Editora Cortez 2002.
[5]OLIVEIRA, M. K. A teoria de Vygotsky. In:  Dois Pontos, julhos/agosto de 1997.








ENCHENTES NO NORDESTE
EXEMPLOS DE SISTEMATIZAÇÕES CRIADAS PELOS ALUNOS



ALUNO 1
“Chuva causa estragos”
-49 cidades foram atingidas;
-Palmares foi a cidade mais prejudicada;
-12.738 desabrigados;
-7.991 não podem ir para casas;
-10 pessoas morreram;



ALUNO 1
“Chuvas causam enchentes”
-Mais de dez mil desabrigados;
-22 municípios em estado grave;
-O governador de Pernambuco pediu 5 milhões para reconstruir as cidades e ajudar os desabrigados;
-O governo de Pernambuco já doou 2,5 milhões.